quarta-feira, 19 de outubro de 2011

15 anos sem Maria

Hoje, 15 anos depois me trazem invasões pelo peito afora e adentro. 15 anos de mudanças, inconformidades, sorrisos, cacos quebrados e colados, grudando glitter para abrilhantar taças e garrafas. Fazendo doações e transfusões de ideias, do tipo O-.

O medo é um ser racional, mas quer ficar de braços dados até quando. Hoje faz 15 anos, mas estou no precipício dos 30. O espelho mostra as minhas mesmices, bizarrices e minha gradual falta de visão, de presente e futuro, por trás destes aros no meio da cara. Grandes alegrias de segundos, lembradas por muito tempo, outras esquecidas, guardadas na caixa de um lóbulo qualquer.

15 anos de caminhos, desvios, lugares.

Big smile. Or not.

Na beira dos 30, um passo de três décadas inteiras, redondas, enfadonhas ou não. Hoje faço o paralelo de como faltaram flores pelo caminho, de como nunca soube como estavam em outros lugares. Uma existência resume-se a querer ou não querer. Dito isso posso dizer agora: não quero o querer alheio.

Não quero estar mais por aí, quero meu lugar, e este lugar pode ser logo ali. Procuro pelas ruelas nestes anos todos. Buscas, logaritmos em jogatinas de sinuca; identidades escapando pelo dedão do pé, esmagadas por outras mãos. Este lugar pode não ser aqui, nem ser encontrado.

Nesses 15 anos não posso deixar de pensar nos 30, metade deles com você, a outra por aí.

Tenho as fotografias daquele dia que não fomos, daquela emoção que nunca soube, lembro daquela resposta que nunca me deu.

Sinto saudades do que não vivemos.

E hoje quase lembro de tudo.

18/10/2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tenho medo da caixa de e-mails

Pessoas ansiosas vivem com dores nas costas, pensando alucinadas em resoluções planejadas, e claro, detestam surpresas.

Algumas das piores surpresas costumam aparecer na caixa de e-mails. Para mim estas são as piores. As boas lembranças são raríssimas: foi por e-mail que tive uma grata surpresa, receber o pedido de namoro enviado por um grande amor e também pelo mesmo canal que respondi o esperado sim! Mas também foi por email que degustei numerosos nãos.

- Não temos interesse em seu currículo neste momento.

- Não poderemos parcelar sua divida.

- Você NÃO passou no processo seletivo, sentimos muito!

Ahhhh! Quase me vejo abrindo a caixa de e-mail e vendo o “numerozinho” de mensagens novas e em seguida a sofreguidão no primeiro clique. Então é aí que começa as caretas em frente ao computador. Uma torcida de nariz (vai lá, todo mundo sabe fazer isso), os ombros vão caindo lentamente e em casos mais graves os olhos começam a encher de lágrimas. Ô vida!

Como é ruim recebermos um não. E como isso faz doer. Já dizia uma amiga: “crescer dói...”

João Cabral de Melo Neto, em um poema sobre a beleza, já comparava a importância desta palavrinha de três letras: ... é tão belo como um sim numa sala negativa.”

Deveríamos fazer uma campanha encaminhada por e-mail sobre o SIM coletivo.

- SIM eu aceito casar com você.

- Sim, eu vou dividir os lucros com todo prazer!

- Sim, você conseguiu a vaga.

Enquanto isso, vamos enchendo o peito de oxigênio e transpirando coragem apesar dos 50 tipos de medo ao clicar no novo envelopinho, singelo e tão temido.